Vivência x Experiência

Lídia, a principal voz feminina de O Silêncio, vive, no presente, uma relação amorosa que lhe causa imensa insatisfação. Essa “vivência” é definida por Walter Benjamin (1994: 197-221), como sendo um processo assistido e acompanhado pela consciência, na condição de alguém que vivencia fortemente suas impressões e que precisa dar conta delas de pronto, pois seus efeitos são imediatos. Tal processo funciona como um gatilho, que a faz voltar constantemente ao passado, buscando em suas reminiscências espelhamentos que a ajudem a resignificar seu presente.

O filósofo alemão, Walter Benjamin, em seus estudos sobre a vivência x a experiência atribuiu-lhes os termos Erlenbis e Erfahrung, respetivamente. Erlebnis, para Benjamin representa a vivência imediata, vivida na qualidade de realidade unitária. A palavra alemã Erlebnis contém o verbo erleben, que significa vivenciar um facto, ou seja, pressupõe que o indivíduo seja presença viva no acontecimento. E se por um lado a Erlebnis denota a provisoriedade do “estar presente”, por outro ela projeta o devir consequente de qualquer ação presente. Como um poliedro, tem várias faces: a fugacidade do momento, a duração do testemunho, a unicidade do acontecimento e a memória que preserva e transmite.

 Já a palavra Erfahrung, que, etimologicamente carrega em seu bojo o verbo fahren, significa viajar, percorrer caminhos. Ela representa a experiência refletida, o conhecimento que somos capazes de adquirir e acumular através da experiência que se prolonga pelo curso da vida. 

Ao fim e ao cabo e dito em outras palavras, a experiência tem um estatuto superior à vivência, uma vez que, enquanto a vivência acontece no âmbito da história pessoal do individuo, a experiência pressupõe a associação entre a vida particular e a vida coletiva, a partir do estabelecimento de critérios que, alimentados pela memória, tornem possível a conjugação desses dois universos. A vivência permeada pelo imediatismo dos acontecimentos e das sensações, muitas vezes passa sem que sejamos capazes de nos apercebermos dela. O que não significa que elas sejam efêmeras, ao contrário, existem vivências que representam instantes intensamente vividos.

Já a experiência é um estado mental; é como um elo que nos vincula ao passado, sendo, em alguma medida, parte constituinte do sujeito, uma vez que integrada à estrutura interior da nossa subjetividade, passa a fazer parte de nossa história, da nossa memória. Entretanto, a memória é pré-conceitual, ou seja, rever uma experiência é algo que nos acontece e não que fazemos: somos agentes passivos desta operação. Significa dizer que, em algumas ocasiões em que revisitamos nossas experiências, quando acessamos nossa memória, não somos capazes de conceituá-las.

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